TONY DE PORTUGAL - 1.000 km de Maratonas
Os meses da primavera são a época por excelência das Maratonas. Em todo o mundo as autênticas romarias sucedem-se e são cada vez mais um atrativo para muitos, no fenómeno que se apelida de "Atletismo Turístico".
Boston, Nova Iorque, Londres, Berlim e Chicago são as maiores do mundo, inseridas no mais famoso circuito internacional de Maratonas - o World Maraton Majors - mas não são as únicas a atrair a cobiça do grande pelotão. Paris, Amesterdão, Madrid, Roma... Porto ou Lisboa... seria exaustivo referi-las todas e poucos haverá que terão tido o privilégio de cortar a linha de meta em mais do que... duas, três... meia dúzia delas.
E é precisamente nesse restrito grupo de "poucos" que encontramos António Gonçalves - o Tony de Portugal - bracarense ilustre que se pode "gabar" de conhecer 17 países onde correu a Maratona (mais seis em viagem). O Tony ultrapassou a marcante fasquia dos 1.000 quilómetros a correr Maratonas!
Boston, Nova Iorque, Londres, Berlim e Chicago são as maiores do mundo, inseridas no mais famoso circuito internacional de Maratonas - o World Maraton Majors - mas não são as únicas a atrair a cobiça do grande pelotão. Paris, Amesterdão, Madrid, Roma... Porto ou Lisboa... seria exaustivo referi-las todas e poucos haverá que terão tido o privilégio de cortar a linha de meta em mais do que... duas, três... meia dúzia delas.
E é precisamente nesse restrito grupo de "poucos" que encontramos António Gonçalves - o Tony de Portugal - bracarense ilustre que se pode "gabar" de conhecer 17 países onde correu a Maratona (mais seis em viagem). O Tony ultrapassou a marcante fasquia dos 1.000 quilómetros a correr Maratonas!
Natural de Braga - nasceu à sombra da Sé - tem agora 59 anos bem passados e embora aposentado, continua a ser um assíduo praticante da corrida pelo lazer - ainda que já não embarque em competições - preferindo passar o testemunho dos seus conhecimentos aos mais novos. Além disso, a música é outra das suas paixões; cantor e compositor, Tony fá-lo por gosto e para "agitar consciências", o que faz dele uma figura pública da cidade de Braga, criticado por alguns, acarinhado por muitos, mas sempre convicto dos seus ideais - deixando que a verborreia das más línguas "resvale na sua couraça de indiferença". Em suma, António Gonçalves é um comunicador nato - um verdadeiro contador de histórias. |
No Atletismo começou apenas aos 33 anos, deixando para trás uma vida menos regrada, arrumando definitivamente o entranhado vício do tabaco. Foi a convite do clube da empresa onde trabalhava - a Grundig de Braga - e onde militaram alguns grandes atletas do panorama nacional: o Dommingos e o Dionísio Castro, o Joaquim Pinheiro, o Carlos Nogueira (irmão do "Nogueirinha"), o Manuel Mota... e onde o treinador era o Prof. Pinto Carvalho (embora o Tony tenha preferido ser "auto-didata" na matéria).
Mas as Maratonas vieram mais tarde. Somente aos 37 anos é que o Tony fez a sua estreia na distância... e logo como internacional. Foi em 1988, em Vilagarcía de Arousa, na Província de Pontevedra, na Galiza - Espanha.
Mas as Maratonas vieram mais tarde. Somente aos 37 anos é que o Tony fez a sua estreia na distância... e logo como internacional. Foi em 1988, em Vilagarcía de Arousa, na Província de Pontevedra, na Galiza - Espanha.
"Fazer 1.000 quilómetros em Maratonas, todas abaixo das 3 horas, sem desistir em nenhuma "
A aposta do Tony era uma: correr mil quilómetros em Maratonas, todos a uma ritmo que lhe permitisse cortar cada uma das 24 metas em menos de 3 horas. A condição era a de nunca desistir de nenhuma. Enquanto esta aposta fosse cumprida, o clube custearia as deslocações e a empresa beneficiaria da publicidade - muita publicidade - que a empreitada lhe daria: "apresentei essa ideia na minha empresa e eles aceitaram o desafio pois tambem lhes fazia publicidade positiva nos jornais desportivos".
Em 1988 estava dado o primeiro passo. Pela frente estariam 12 anos, inesquecíveis por certo, e dos quais o Tony fala com saudade, orgulho e "um brilhosinho nos olhos".
Durante esses doze anos seguintes, o "papa léguas" (assim o alcunhavam os amigos), treinou qualquer coisa como 43.000 km, dedicando-se especificamente às provas de fundo - as "suas" Maratonas e umas quantas outras provas de longa distância, entre as quais a famosa Paris - Versailles. António Gonçalves, em plena Paris - Versailles, 1994
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17 países, 2 continentes, 24 Maratonas, 1.012 quilómetros
Como foi referido, o longo caminho do Tony principiou em 1988, tinha ele 37 anos - 4 como atleta. Vilagarcía de Arousa foi o local da sua estreia como maratonista, mas a recordação até nem é a melhor: "foi uma Maratona com traçado complicado e difícil com longas subidas".
Ainda em 1988, Tony correu a sua 2ª Maratona, desta feita, em Lisboa, onde correu igualmente em 1989, depois de Santiago de Compostela.
Entre 1990 e 1993, as suas participações foram todas em território nacional, correndo em 1990 em Lisboa, 1991 em Almeirim (prova extinta, organizada pela Spiridom), em 1992 em Lisboa, para a repetir em 1993, onde alcançou o seu recorde pessoal - 02h39'.44''. Esta foi a sua última Maratona em Portugal - 8ª da sua carreira.
A partir de 1994, começam as viagens pelo circuito das maiores Maratonas do mundo, onde o Tony brilhou e onde ganhou a alcunha pela qual muitos ainda o conhecem: Tony de Portugal.
Ainda em 1988, Tony correu a sua 2ª Maratona, desta feita, em Lisboa, onde correu igualmente em 1989, depois de Santiago de Compostela.
Entre 1990 e 1993, as suas participações foram todas em território nacional, correndo em 1990 em Lisboa, 1991 em Almeirim (prova extinta, organizada pela Spiridom), em 1992 em Lisboa, para a repetir em 1993, onde alcançou o seu recorde pessoal - 02h39'.44''. Esta foi a sua última Maratona em Portugal - 8ª da sua carreira.
A partir de 1994, começam as viagens pelo circuito das maiores Maratonas do mundo, onde o Tony brilhou e onde ganhou a alcunha pela qual muitos ainda o conhecem: Tony de Portugal.
CURRÍCULO António Gonçalves define-se como tendo sido um atleta "lento", fruto essencialmente de se ter iniciado tarde na prática do Atletismo e de treinar apenas longas distâncias. Apesar disso, ao currículo apresentado acrescente-se que Tony tem um recorde pessoal de 33'.21'' aos 10.000 m e de 01h13' à Meia Maratona. |
1994
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"As Maratonas de Atenas e de Nova Iorque foram as que mais me marcaram" Naturalmente que as viagens geram histórias e na mente de Tony elas estão bem vivas. Não duvidamos que esta entrevista lhe fez brotar em turbilhão inúmeras memórias, cujo espaço certo para o seu registo seria um livro e não este exíguo espaço. De entre aquilo que nos contou, retemos dois dos momentos que marcaram a carreira - e a vida - deste homem sensível; A Maratona de Atenas foi de todas aquela que mais marcou António Gonçalves. O misticismo do local, impregnado de história, e o simbolismo de poder correr na cidade onde nasceu a Maratona foram aspetos realmente marcantes.
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Tony classifica o percurso como "bastante difícil, com algumas subidas acentuadas e onde, durante muito tempo, não há praticamente público. Na estrada, somente os corredores, envolvidos por uma paisagem montanhosa e quase deserta e fustigados pelo intenso calor" (1995). A Maratona de Atenas ficou também marcada para o bracarense, no aspeto competitivo, "pois perdi o 1º lugar para um atleta de leste já à entrada do Estádio Olímpico, a 400 metros da meta!"
Nova Iorque foi outro dos pontos marcantes na vida de Tony. "Por vezes ainda tenho sonhos com esta louca Maratona, onde estão quase sempre os melhores maratonistas do mundo, nomeadamente nos veteranos. Fiquei entre os vinte melhores veteranos - o que não foi tarefa fácil - pelo que a guardo num recanto especial da minha memória".
Tony salienta a dificuldade em se conseguir uma vaga em Nova Iorque, nomeadamente para quem tiver tempos acima das 3 horas, sempre sujeitos a uma seleção pelo processo de sorteio.
Em 1994, o português levou consigo para os EUA o seu novo recorde pessoal de 02h39'.44'' (obtido em Lisboa), o que lhe garantiu a saída na faixa 3 (havia mais de uma dezena de faixas), destinada a atletas com tempos abaixo das 02h40'.
Atravessar Manhattan e as suas famosas pontes e chegar à meta debaixo do clamor da multidão, aglutinada no Central Park - apesar dos saturantes quatro km que o percurso ali impõe, à volta do parque - é deveras gratificante. E isto marcou António Gonçalves: "durante a corrida pelas ruas de Nova Iorque, estão cerca de dois milhões de espetadores ruidosos, que incentivam todos os atletas, do primeiro ao último. Resumindo, é sem dúvida a melhor Maratona do mundo!"
Tony guarda ainda boas recordações das Maratonas de Londres, Roma e Amesterdão, onde saiu vencedor.
Nova Iorque foi outro dos pontos marcantes na vida de Tony. "Por vezes ainda tenho sonhos com esta louca Maratona, onde estão quase sempre os melhores maratonistas do mundo, nomeadamente nos veteranos. Fiquei entre os vinte melhores veteranos - o que não foi tarefa fácil - pelo que a guardo num recanto especial da minha memória".
Tony salienta a dificuldade em se conseguir uma vaga em Nova Iorque, nomeadamente para quem tiver tempos acima das 3 horas, sempre sujeitos a uma seleção pelo processo de sorteio.
Em 1994, o português levou consigo para os EUA o seu novo recorde pessoal de 02h39'.44'' (obtido em Lisboa), o que lhe garantiu a saída na faixa 3 (havia mais de uma dezena de faixas), destinada a atletas com tempos abaixo das 02h40'.
Atravessar Manhattan e as suas famosas pontes e chegar à meta debaixo do clamor da multidão, aglutinada no Central Park - apesar dos saturantes quatro km que o percurso ali impõe, à volta do parque - é deveras gratificante. E isto marcou António Gonçalves: "durante a corrida pelas ruas de Nova Iorque, estão cerca de dois milhões de espetadores ruidosos, que incentivam todos os atletas, do primeiro ao último. Resumindo, é sem dúvida a melhor Maratona do mundo!"
Tony guarda ainda boas recordações das Maratonas de Londres, Roma e Amesterdão, onde saiu vencedor.
Bem sabemos que as décadas de 80, 90 e a primeira deste milénio não estão assim tão distantes, contudo, os tempos mudam a uma velocidade estonteante. São essas diferenças que procuramos descobrir, em conversa com António Gonçalves.
Crónicas das Corridas (CC): Tony, que diferença encontra entre ser-se atleta hoje e no seu tempo? António Gonçalves (AG): Hoje ser maratonista é mais fácil, por isso os maratonistas são em maior número. Também o número de Maratonas cresceu imenso, criando-se aqui uma espécie de ciclo: o aumento de atletas contribuiu para o aumento do número de provas, que por sua vez faz com que haja mais gente a iniciar-se na corrida. Além disso, fatores como o aperfeiçoamento do calçado - e restante equipamento - as empresas de turismo desportivo, etc, facilitam a vida a quem tem na corrida uma atividade fundamental. |
CC: As três Maratonas portuguesas... têm "pernas para correr"?
AG: No meu tempo havia apenas duas Maratonas portuguesas; uma em Almeirim, de projeção mais regional e outra em Lisboa, de projeção média, que durante muitos anos foi considerada a melhor do país. Hoje vê a saudável concorrência da Maratona do Porto, que ameaça tomar essa liderança. Genericamente os portugueses, contudo, não estão ainda muito "virados" para a corrida da Maratona, principalmente devido à envergadura da longa distância e porque poucos são competitivos, ao ponto de baixar das 3 horas. A maioria dos nossos maratonistas fá-lo pelo prazer da corrida, tendo como primordial objetivo concluir a prova, não dando muita importância aos tempos.
CC: O que leva um atleta a "correr mundo" para participar numa Maratona internacional? / Teve algum treinador a incentivar?
AG: A motivação para um atleta correr uma Maratona internacional advém de vários fatores; a própria presença numa Maratona de grande nível, estar entre os melhores, gostar de viajar, etc... O meu treinador fui praticamente eu próprio, mas antes de fazer as Maratonas li bastantes livros e revistas internacionais sobre a metodologia de treinos para correr Maratonas.
CC: Que conselhos daria a quem pretende iniciar-se na prática da corrida, em especial da Maratona?
AG: Para poder correr uma Maratona é necessário, em primeiro lugar, gostar de correr longas distâncias. Depois, é fundamental ter um bom "chassi" - esqueleto, entenda-se. É necessário treinar regularmente durante cerca de três meses, nunca menos de 90 km por semana - e não é muito! Nesse plano de treino deverão constar no mínimo quatro sessões de mais de duas horas (entre as duas e as duas e meia), ter bom calçado e saber alimentar-se. Nunca esquecer: respeitar o descanso é um fator chave.
Depois, junte-se a capacidade de sofrimento e uma mente forte. Com estes "condimentos", todos - todos mesmo - poderão correr esta "louca distância".
AG: No meu tempo havia apenas duas Maratonas portuguesas; uma em Almeirim, de projeção mais regional e outra em Lisboa, de projeção média, que durante muitos anos foi considerada a melhor do país. Hoje vê a saudável concorrência da Maratona do Porto, que ameaça tomar essa liderança. Genericamente os portugueses, contudo, não estão ainda muito "virados" para a corrida da Maratona, principalmente devido à envergadura da longa distância e porque poucos são competitivos, ao ponto de baixar das 3 horas. A maioria dos nossos maratonistas fá-lo pelo prazer da corrida, tendo como primordial objetivo concluir a prova, não dando muita importância aos tempos.
CC: O que leva um atleta a "correr mundo" para participar numa Maratona internacional? / Teve algum treinador a incentivar?
AG: A motivação para um atleta correr uma Maratona internacional advém de vários fatores; a própria presença numa Maratona de grande nível, estar entre os melhores, gostar de viajar, etc... O meu treinador fui praticamente eu próprio, mas antes de fazer as Maratonas li bastantes livros e revistas internacionais sobre a metodologia de treinos para correr Maratonas.
CC: Que conselhos daria a quem pretende iniciar-se na prática da corrida, em especial da Maratona?
AG: Para poder correr uma Maratona é necessário, em primeiro lugar, gostar de correr longas distâncias. Depois, é fundamental ter um bom "chassi" - esqueleto, entenda-se. É necessário treinar regularmente durante cerca de três meses, nunca menos de 90 km por semana - e não é muito! Nesse plano de treino deverão constar no mínimo quatro sessões de mais de duas horas (entre as duas e as duas e meia), ter bom calçado e saber alimentar-se. Nunca esquecer: respeitar o descanso é um fator chave.
Depois, junte-se a capacidade de sofrimento e uma mente forte. Com estes "condimentos", todos - todos mesmo - poderão correr esta "louca distância".
António Gonçalves, o Tony de Portugal, teve o privilégio de reunir esses "condimentos"... e correu a Maratona. Correu-a vinte e quatro vezes. Saboreou-a... e retirou dela parte importante da sua personalidade como pessoa.
Confidencio-nos que o Atletismo entrou na sua vida como "um totoloto, pois ganhei saúde, conhecimento, aprendi línguas, conheci países e pessoas fantasticas de todos os continentes e hoje continuo ligado ao atletismo, fazendo manutenção, lendo e estudando tudo sobre meio fundo e fundo ajudando atletas jovens e também idosos". 2001 - Hungria, Budapeste Tony de Portugal, cortando a meta da sua 24ª e última Maratona, quebrando assim a barreira dos 1.000 km, todas abaixo das 3 horas e sem nunca ter desistido. O que seria a vida sem objetivos? Publicado em: 10/05/2012 |