CLÁUDIO RIBEIRO - á conquista do Nepal
Que o atletismo, nomeadamente a corrida, é um dos desportos mais praticados em todo o mundo, não duvidamos.Nos últimos tempos, em Portugal, assistimos a um crescente aumento de atletas nas corridas de estrada, prova evidente da importância que a prática desportiva assume na vida dos portugueses.A “liberdade” e o equilíbrio emocional proporcionados pelo desporto, além do seu aspecto social, são certamente motivos que granjeiam cada vez mais adeptos para esta prática.
Por outro lado, assistimos a um curioso fenómeno; para muitos destes apelidados de “loucos”, uma simples corrida de estrada já não basta para saciar a sua sede de aventura e de superação. Começam então a surgir em força as grandes Maratonas de montanha. E quando afirmamos que “começam a surgir”, estamos apenas a falar nas novas organizações que se lançam agora em Portugal na difícil – mas gratificante – tarefa de organizar excelentes Trail’s, com cada vez mais adeptos. A nível global, a “modalidade” não é nova.Correr na neve, no deserto ou nas altas montanhas é algo que há muito cativou o espírito aventureiro de uma multidão de praticantes. |
ULTRA TRAIL CHISMES-DOLPO – A aventura no topo do mundo
Não passa de um mero exemplo, mas tem o seu fascínio.O cenário dos Annapurna e do Alto e Baixo Dolpo, em pleno e misterioso Nepal, serve de palco para a grande aventura anual do Ultra Trail.São 373 km para percorrer em 11 etapas (2012). São altitudes que variam entre os 820 e os 5.500 metros. O desnível acumulado ascende aos 32.875 metros, resultado de uma oscilação mínima entre os -15.589 metros e os +17.286 metros.Estima-se que as temperaturas possam descer aos 20ºC negativos e disparar até aos 32ºC positivos.Pormenores...E o que são pormenores, se comparados com o "turbilhão de emoções" despoletado pela paz e tranquilidade da montanha?
Neste particular, os atletas são obrigados a vencer difíceis caminhos, mal definidos e com elevado risco de se perderem; sobem a cumes que ferem os céus e descem às profundezas de vales encantados e selvagens, ladeando precipícios que dão para... o vazio. Atravessam rios furiosos e penetram em bosques virgens, enfrentando a Natureza no "seu estado mais puro". |
As paisagens variam entre o árido e o desértico, o branco das neves eternas e os montes e vales exuberantes. O Lago Phoksumdo é um dos ex-líbris da região. O seu azul-turquesa sobressai, extasiando os olhares dos que têm a felicidade de por lá passar. Vestígios das culturas tibetanas são também visíveis, sempre tímidas e desconfiadas em relação à presença forasteira. São eles os donos e senhores ancestrais daquelas paragens, nos confins do mundo. Mundo perigoso e arriscado... mas apenas para os incautos desconhecedores das suas regras e das suas leis naturais. |
CLÁUDIO RIBEIRO E A SUA EXPERIÊNCIA NO NEPAL
É bracarense, de Vila Verde, tem 43 anos e é empresário de profissão.Cláudio Ribeiro teve essa felicidade de ter sido um dos poucos participantes nesta aventura - e o único português. Foi em outubro de 2011, mas o simples recordar provoca-lhe as mesmas emoções.Cláudio é amigo pessoal de Jesús Martinez Novas, o organizador da prova, e este foi o princípio da sua aventura nepalesa.Jesús Novas é espanhol e, também ele, um apaixonado pela natureza e pelas montanhas. A Peneda, em pleno Gerês, é um dos seus refúgios predilectos, onde, na companhia de Cláudio Ribeiro, gosta de escalar, correr ou simplesmente caminhar.Por outro lado, o Cláudio é associado do Clube de Montanhismo de Braga, que lhe proporciona actividades regulares, inclusive de alpinismo, em diferentes montanhas da Europa.
E foi assim que “tudo” começou.
Crónicas das Corridas (CC): Há quanto tempo pratica este desporto?
Cláudio Ribeiro (CR): Não sei se posso afirmar que “pratico este desporto”. Isto porque temporalmente tudo aconteceu neste último ano.Esta prova (Chismes – Annapurna – Dolpo) foi a única!… Antes tinha participado no Ultra Trail Serra da Freita e no Galicia – Maxica, no Monte Galinheiro, além do UT Amigos da Montanha, em Barcelos, mas tudo mais como um teste.
CC: Como é fazer uma Ultra Maratona no distante Nepal?
CR: Ao contrário do que possa parecer, é bastante agradável e motivador. Até porque as pessoas, quando se fala no Nepal, atribuem-lhe mais importância, talvez devido ao mito da inacessibilidade das altas montanhas. Mas na realidade é acessível a qualquer um dos comuns, tal como sou eu.
Crónicas das Corridas (CC): Há quanto tempo pratica este desporto?
Cláudio Ribeiro (CR): Não sei se posso afirmar que “pratico este desporto”. Isto porque temporalmente tudo aconteceu neste último ano.Esta prova (Chismes – Annapurna – Dolpo) foi a única!… Antes tinha participado no Ultra Trail Serra da Freita e no Galicia – Maxica, no Monte Galinheiro, além do UT Amigos da Montanha, em Barcelos, mas tudo mais como um teste.
CC: Como é fazer uma Ultra Maratona no distante Nepal?
CR: Ao contrário do que possa parecer, é bastante agradável e motivador. Até porque as pessoas, quando se fala no Nepal, atribuem-lhe mais importância, talvez devido ao mito da inacessibilidade das altas montanhas. Mas na realidade é acessível a qualquer um dos comuns, tal como sou eu.
CC: Quais as principais dificuldades (quer desportivas, quer de logística) encontradas? CR: Sem dúvida que para mim as maiores dificuldades foram as altitudes a que nos tinha-mos que submeter, a geografia do terreno em si e também o frio intenso que se fazia sentir, principalmente à noite e de manhã, uma vez que dormia-mos a céu aberto, sem tenda, dentro de um simples saco cama, e quase sempre em regime de autonomia total, ter que percorrer longas distâncias durante nove dias seguidos. O difícil foi chegar ao fim. |
CC: A adaptação ao clima e ao território é difícil?
CR: A dificuldade e o espírito de sacrifício estão inerentes a este tipo de actividade. É preciso dizer que a actividade em alta montanha é dura. A aclimatação à altitude é obrigatória. O nosso organismo não está adaptado à altitude.Duas semanas antes, aclimatei no vale de Kumbu, no Everest, com várias subidas até aos 6.187 metros. Mas isto é o normal. Para quem gosta não é difícil!... O país também é fascinante.
CC: Ao nível logístico, que aspectos terão que ser tidos em consideração?
CR: A logística é muito pouca, por incrível que pareça, para uma estadia de um mês. A mochila não deve ultrapassar os 12 kg, durante a corrida. Ter em consideração o aspecto técnico e a eleição da roupa e das sapatilhas é o mais importante… tudo o resto pode ser encontrado em Katmandu; lá existe de tudo.
CC:Repetiria a experiência?
CR: Sim! Sempre com muita emoção.
CC:Que conselho (s) daria a outro português que se quisesse aventurar a lá ir?
CR: Penso que não há nenhum conselho especial. Apenas diria que será sempre uma aventura maravilhosa para quem goste de fazer actividade em montanha e de visitar um país algo exótico.
CC:Em “contas redondas”, quanto é necessário dispor?
CR: Em média, talvez três mil e poucos euros… se for “poupadinho”…
CC:Há novos desafios na “manga”?
CR: Talvez!... Gostava muito de tentar o Aconcagua em solitário e divagar um pouco pela cordilheira do Perú.
CC:Como empresário, que importância tem para si a prática do desporto?
CR: A prática do desporto é um factor de equilíbrio físico e mental do indivíduo, por isso acho que todos o devemos procurar fazer, cada qual à sua maneira.
______
Em suma, estamos perante um homem simples, que desmistifica a ideia de “inatingível” que por vezes envolve este tipo de realizações.Numa vertente mais competitiva, acrescentamos que este bracarense, na qualidade de único amador presente na edição de 2011 do Chismes – Dolpo, se classificou em 7º lugar, numa tabela recheada de grandes nomes do reino das montanhas.
CR: A dificuldade e o espírito de sacrifício estão inerentes a este tipo de actividade. É preciso dizer que a actividade em alta montanha é dura. A aclimatação à altitude é obrigatória. O nosso organismo não está adaptado à altitude.Duas semanas antes, aclimatei no vale de Kumbu, no Everest, com várias subidas até aos 6.187 metros. Mas isto é o normal. Para quem gosta não é difícil!... O país também é fascinante.
CC: Ao nível logístico, que aspectos terão que ser tidos em consideração?
CR: A logística é muito pouca, por incrível que pareça, para uma estadia de um mês. A mochila não deve ultrapassar os 12 kg, durante a corrida. Ter em consideração o aspecto técnico e a eleição da roupa e das sapatilhas é o mais importante… tudo o resto pode ser encontrado em Katmandu; lá existe de tudo.
CC:Repetiria a experiência?
CR: Sim! Sempre com muita emoção.
CC:Que conselho (s) daria a outro português que se quisesse aventurar a lá ir?
CR: Penso que não há nenhum conselho especial. Apenas diria que será sempre uma aventura maravilhosa para quem goste de fazer actividade em montanha e de visitar um país algo exótico.
CC:Em “contas redondas”, quanto é necessário dispor?
CR: Em média, talvez três mil e poucos euros… se for “poupadinho”…
CC:Há novos desafios na “manga”?
CR: Talvez!... Gostava muito de tentar o Aconcagua em solitário e divagar um pouco pela cordilheira do Perú.
CC:Como empresário, que importância tem para si a prática do desporto?
CR: A prática do desporto é um factor de equilíbrio físico e mental do indivíduo, por isso acho que todos o devemos procurar fazer, cada qual à sua maneira.
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Em suma, estamos perante um homem simples, que desmistifica a ideia de “inatingível” que por vezes envolve este tipo de realizações.Numa vertente mais competitiva, acrescentamos que este bracarense, na qualidade de único amador presente na edição de 2011 do Chismes – Dolpo, se classificou em 7º lugar, numa tabela recheada de grandes nomes do reino das montanhas.
CONSULTAR LISTA DE INSCRITOS E SEUS CURRÍCULOS (CMB) (clique para ver)
Classificação
1. Salvador Calvo Redondo, 87h50’
2. Joel Jaile Casademont, 88h52’
3. Graciano Novoa Rodríguez, 90h33’
4. Pablo Criado Toca, 91h33’
5. Jesús Martinez Novas, 93h49’
6. Beña Zubillaga Murguiondo, 94h10’
7. Cláudio Ribeiro, 94h50’
8. Rafael Romero Rodríguez, 97h08’
1. Salvador Calvo Redondo, 87h50’
2. Joel Jaile Casademont, 88h52’
3. Graciano Novoa Rodríguez, 90h33’
4. Pablo Criado Toca, 91h33’
5. Jesús Martinez Novas, 93h49’
6. Beña Zubillaga Murguiondo, 94h10’
7. Cláudio Ribeiro, 94h50’
8. Rafael Romero Rodríguez, 97h08’
Cláudio Ribeiro não quis concluir esta entrevista sem antes deixar um conselho: "Repetiria apenas para aqueles que gostam de montanhas, mas que por razões de timidez se afastam, que se juntem àqueles que já lá andam e com eles ganhem a experiência para poderem andar nelas, desfrutando do mais puro que elas nos podem oferecer… seja um turbilhão de emoções, porque se atinge um qualquer cume, seja o simples contacto com a NATUREZA, na sua essência mais pura". Agradecimentos:
Fotos: de Cláudio Ribeiro e Clube de Montanhismo de Braga. |
Publicado em: 17/02/2012